Eu
não escrevo palavras. Isso qualquer criança mal-amada consegue escrever. Eu
ponho nos seus olhos sentimentos. Se te agrada ou não, sei lá, foda-se.
Descobri
isso quando tentei sucesso em um livro. Só que o livro ainda não existia,
apenas aquela página em branco (digital), e o ponteirinho do teclado. Aquela
barrinha preta, sabe? Que fica piscando e te dizendo que você é um inútil sem
talento algum. Pois então, eu não conseguia escrever nada. Eu tentava e tentava
e a única coisa que conseguia fazer era martelar as teclas. Martelar às cegas,
desarmado de raciocínio ou arte. Arte. ARTE, em caixa alta porque merece.
Eu
botei o computador pra dormir. Peguei um livro e comecei a ler. O cara tinha estilo. Dava pra senti-lo, cheirá-lo,
tragá-lo em cada letra. Eu virei inveja; não tinha meu próprio estilo, apenas
tentava copiar o dos outros, e o mundo está cheio de cópias por aí. E mesmo que
as cópias das cópias das cópias façam algum sucesso, eu não queria isso. Pra que
ser só mais uma bituca de cigarro no cinzeiro se você pode ser um cachimbo? Ou
um poste? Ou qualquer coisa que ainda não exista?
Larguei
o livro, acordei o computador e prestei atenção no que gritava dentro de mim. Era
tédio com um “T” bem grande pra você (sim, é Legião. Ou Aborto Elétrico, não
sei direito). Botei o tédio na página em branco e pari um poema decente – eu sei
quando o poema é decente quando eu gostaria de lê-lo em um livro comprado por
50 reais numa banca de jornal.
Naquele
momento eu me descobri, igual quando me masturbei a primeira vez, com a porra
em minhas mãos. Só que a porra agora estava digitalizada naquele documento. Agora
sim eu estava pronto para encarar a vida. Agora sim eu era um indivíduo com estilo...
Podem
vir, obstáculos, com seus dentes e tripas e armaduras e cassetetes bastardos,
que eu derrubo um por um com meu grande sabre de ARTE! Eu virei o touro ascendente
em sagitário; sou boi, homem, cavalo e arco-e-flecha ao mesmo tempo, dando
coices no computador ou dentro da sua irmã.