esse ano eu mudo
tudo o que tenho
três passos de cada vez
obrigo a mente a não se pensar
fecho os olhos para enxergar
o que não via no escuro
e se for pra entrar no escuro
entro pelas portas do fundo
buscando a primeira luz de adega
que me cegar
mas esse ano eu mudo
aquilo e meu outro
carregando conosco
passados ultrapassados
pelo mesmo minuto
atrasado
rasgo o dedo no lacre da cerveja
burrice de não iniciante
eu sigo adiante
goles que se tornarão esgoto
o que me servem é pouco
sempre pouco
até ser demais
descobri que tristeza é só amor
desidratado
mal regado
secando no próprio caule
folhas mortas que já amei
todas fazem parte de mim
até que não mais
mas esse ano eu mudo
tudo tudo tudo
trinta e três passos
de uma vez.