terça-feira, 15 de julho de 2025

33

esse ano eu mudo
tudo o que tenho
três passos de cada vez

obrigo a mente a não se pensar
fecho os olhos para enxergar
o que não via no escuro
e se for pra entrar no escuro
entro pelas portas do fundo
buscando a primeira luz de adega
que me cegar

mas esse ano eu mudo
aquilo e meu outro
carregando conosco
passados ultrapassados
pelo mesmo minuto
atrasado

rasgo o dedo no lacre da cerveja
burrice de não iniciante
eu sigo adiante
goles que se tornarão esgoto
o que me servem é pouco
sempre pouco
até ser demais

descobri que tristeza é só amor
desidratado
mal regado
secando no próprio caule
folhas mortas que já amei
todas fazem parte de mim
até que não mais

mas esse ano eu mudo
tudo tudo tudo
trinta e três passos
de uma vez.

quinta-feira, 10 de julho de 2025

FOME DE VIDA

eu bebo a noite num copo
de sei lá
viajo calçadas e mesas
na busca
de não sei o quê
esperando alguém
que nunca chega

calo meus pensamentos com cerveja
eles nadam no vazio que nos habita
segue minha escrita e minha bebida
em horas apressadas infinitas

eu sou aquilo que meu acaso
me rabisca
poderia viver nessas conversas
na nossa língua
guardo a tristeza míngua
num abraço que me abriga

eu caminho a noite num passo
eu faço ser humanices
no traço descompassado
tá tudo bem 
quando o passado fica no passado

eu tô tão presente que estou te dando
uma parte minha em encanto
talvez hoje você seja
o que estou buscando
mas se não for
eu te canto em poesia

eu fumo a noite num trago
o maço noturno não dura até o dia
sua fumaça alcança a alegria
em tons respiratórios de despedida
a seda tá babada 
viva a fantasia
da juventude esquecida
verde claro vira cinza
nos pés que dançam a melodia

estou tão seu que sua vida
parece ser a minha
mas não é, eu sei que não é
cada qual sabe a estrada que caminha
poema, poema
a arte de ser é via infinda

eu ressaco o dia
o soro pinga sobre a pinga
valeu a pena?
sou pescador de ilusões 
e as frito na larica 
minha alma bate na barriga
fome de vida?
quase sempre
meu paladar não tem saída.

BITUCAS

fumo bitucas dos amores que sobraram
quase todos já foram descartados
reutilizados
um maço novo
não cabe no meu orçamento
é por isso que você está vendo
meu cinzeiro
cheio de vento

eu sei que amor não se compra
mas já vi muita gente vendendo
o meu eu não vendo
pra ninguém nesse mundo
(ele é só um rascunho)

eu fumo o que dá
o que sobra
o que vem lá de cima
e está pra baixo agora

eu te fumo deliciosamente
te transformo em fumaça
e pelas arestas da janela
transparente
você vai embora.