eu pago meus passos
por um espaço
que não é meu
pago pelo começo do dia
onde a maioria
ainda nem acordou
eu pago ansiedade
com o presente
que ela me roubou
agora vejo essa sua cara
essa sua garganta molhada
de vícios luxuosos
que meu corre não poupou
meu poema não paga sua cerveja
sua piada não tem graça
quando é você quem está
sentado do outro lado da mesa
de barriga cheia
falando besteira
minha arte é uma droga
que você não cheira
meu poema não paga sua cerveja
nem teus erros
tua falha
o que te falta
na persona rasa
e a noite se emenda
colada com os foras
dentro da minha presença
e me dizem
"a gente não quer comprar nada"
mas em nenhum momento
eu disse
que eu estava à venda
meu poema não paga sua cerveja
mal paga a minha existência
mas eu penso, logo insisto
cada verso um passo de resistência
e eu espero sua decência
de ao menos
me desejar
nessa infinita madrugada da alma
uma boa caminhada.