comecei pela caipirinha
e a primeira não funcionou
então tentei a segunda
e a terceira.
escrevi alguma coisa sobre
não saber se a minha chatice
e meu nojo pelas coisas que eu amava antes
eram sinais de sabedoria e iluminação
ou apenas velhice.
o poema ficou muito comprido
para vendê-lo na rua.
as pessoas não têm tempo pra poesia.
ela precisa ser tão rápida
e digerível
quanto seus relacionamentos.
a caipirinha fez efeito e eu fui pra cama
às 4 da tarde
rezando para que eu não perdesse
a noite inteira
sonhando com meu passado.
acordei às 7 da noite.
comprei um chocolate em pó
e esquentei leite no microondas.
aqui eu já havia desistido
de ser o artista autodestrutivo,
o rebelde alcoolatra,
o periquito sem asa.
queria apenas pão com manteiga
e chocolate quente
e as minhas gatinhas
dilacerando baratas.
sentei minha bunda na cadeira
e maltratei o teclado
até que saísse alguma coisa
da gente.