caminhando como um jumento
buscando alívio
no presente
sem prestar atenção
no agora
sem dizer nada
pra ninguém
pensando se vai
ter amanhã
ou depois de amanhã
sentido o vazio do espaço
dentro do próprio peito
cantando canções invisíveis
cavando a própria fossa
sentando na praça
esperando ser o único
no meio de outros únicos
que só pensam em si
mesmo quando pensam
nos outros
ou nas formigas
que não comem toda grama
e que trabalham porque não cantam
como dizia Raul.
esperando o trem chegar
olhando o próprio reflexo chorando
esperando a hora passar
contando os segundos
antes dos minutos e
deixando tudo vazar
pelo vão dos dedos
e da plataforma
formando opinião
sem questionar a própria opinião
achando novo
ideias velhas
ficando rico com ouro de tolo
e é por isso que eu prefiro
ser uma metamorfose ambulante
como dizia Raul.
caminhando feito burro e
bebendo álcool como água
pra ver a beleza de ser maluco
no horário de almoço
ou quando sobra um tempo
pra perder num cigarro amassado
no bolso da jaqueta manchada de vinho
que já me viu ficar tantas vezes
maluco beleza
como dizia Raul.