segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

CHORO FORÇADO

Eu tô chorando de propósito.
Sem motivo algum.
Só pra equilibrar as coisas.
Melhor eu chorar agora que tô bem
do que soluçar compulsivamente
quando algo acontecer.
E eu sei que vai.
Não sou bobo.
Já passei por carnavais o suficiente
pra aprender que nada é eterno,
que situações desagradáveis me
esperam em algumas dessas
365 páginas.
Só tenho medo de uma coisa nesse
mundo inteiro:
andar pra trás.
Desaprender.
Voltar a ser o que eu era.
Mas eu nem tô pensando nisso.
Botei uma música bem triste,
uma que me lembra que
você é meu tipo de mulher,
que eu não me importo tanto assim comigo,
que eu sempre dou TUDO de mim
para quem eu gosto, embora
meu tudo não pague nem uma
porção de batata.
E que, conforme as pessoas
vão saindo da minha vida,
eu sempre acabo no meu quarto,
pensando se não fui o suficiente,
se vou aguentar até meu aniversário
em Maio, se eu
sigo o baile ou não.
Tô chorando de propósito pra
você não me achar um besta
quando nos encontrarmos de novo.
Porque eu não quero ser desagradável.
Quero apenas ser aceito, como se
eu fosse alguém que importa de verdade.
Mas eu sei que a gente deseja
aquilo que tá todo mundo desejando.
Eu sei que somos egoístas demais,
fúteis demais, temporários demais
para que qualquer "eu te amo" tenha
algum valor real.
E ultimamente tá sendo muito fácil chorar de propósito.
Talvez porque, no fundo, ainda há
alguma tristeza mal curada.
É isto.

ABERTO

"É claro que eu sinto ciúmes.
Eu sou o mestre em sentir
as coisas.
E eu sinto muito", Jorge disse.
Abraçada com um outro cara
totalmente diferente (de olhos claros,
músculos definidos, dentes,  barba, pâncreas),
Viviane deu de ombros e o beijou.
Havia outras bocas lá naquela
balada, mas Jorge preferiu
voltar pra casa;
o problema era dele.
E a dívida das alianças
recém compradas também.